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2011-06-19

Capítulo 4 - Fallen Angel


Capítulo 4 - Asas

O museu era de arte antiga. Enquanto alguns alunos ficavam conversando, outros admiravam as obras. Nesse último grupo, Victoria e Lucas estavam incluídos.

Gabriela e Carolina haviam sumido, talvez estivessem em outro grupo, pois Victoria não as encontrou durante todo o dia.

Na verdade ela não se importou,até preferiu assim, afinal, Gabriela, sendo tão impulsiva, poderia estragar o clima descontraído e amigável que estava entre ela e Lucas.

- Ei, olha só! Não é linda? - disse Lucas com seus olhos mostrando nitidamente alegria, enquanto admirava a obra.

- É, realmente é muito linda. - disse Victoria sorrindo ao ver a obra. Era uma pintura baseada nos tempos do auge grego, mas fora pintada após a Idade Média.

Na tela estava uma cena típica grega: várias pessoas vestidas com túnicas entrando e saindo do templo de Zeus, que possuía uma estátua gigantesca dele no meio do templo. A perfeição era tanta que parecia uma fotografia.

- Você gosta de quadros? - perguntou Lucas.

-Sim, principalmente os mais realistas. Queria tanto poder fazer uma pintura tão linda... - disse Victoria, sonhando enquanto admirava a obra.

- Nossa, seria demais! Não desista, talvez um dia você consiga. - disse Lucas sorrindo carinhosamente.

- Ah! Obrigada, mas acho que não... E você?

- Eu sempre gostei de pinturas, mas o que eu mais gosto são as esculturas. É tão incrível como parecem pessoas de verdade. - Lucas tinha um brilho no olhar enquanto falava.

- Vamos ver a seção de escultura, então? - disse Victoria sorrindo.

- Claro! - Lucas ficara extremamente alegre, o que fez Victoria se perder em sua mente por alguns segundos.

Para Victoria, Lucas era incrível: era lindo, carinhoso, tinha um sorriso que podia hipnotizar, tinha notas boas (por volta de 8 ou 9), gostava de arte, e outras coisas que ainda iria descobrir. "Como alguém pode ser tão... Perfeito?" pensava às vezes.

Durante alguns minutos observaram as esculturas antigas, até que o professor chamou todos. O passeio havia terminado.

Em poucos minutos já estavam todos dentro dos ônibus e a viagem de volta começou. Mais duas horas sentados até chegarem na escola.

Victoria e Lucas se sentaram, Victoria pegou sua garrafa de água e bebeu vários goles, quase metade.

- Ah! Agora estou melhor. - disse Victoria enquanto guardava a garrafa e entregava sua bolsa para Lucas guardá-la.

- Então... Como você conheceu as suas duas amigas? - disse Lucas sentando-se ao lado de Victoria.

- Bem, eu entrei para essa escola há sete anos. Quando eu entrei na sala, o professor me mandou sentar em algum lugar vago, e a Gabi acenou falando para eu sentar ao seu lado. Assim eu fiquei amiga dela. Depois de um mês ela me apresentou à Carolina. Bem... Digamos que a Carol não foi tão amigável quanto a Gabi...

- Entendo.

- Você veio de onde antes de vir pra cá?

- Eu já morava na cidade. Não me lembro de muita coisa da minha infância. Lembro que antes estudava em uma pequena escola longe do centro.

- Não lembra de mais nada? Nem do nome da escola?

- Não...

- Oh... Bem, então como é a sua família?

- Eu não tenho irmãos nem pais. Meus avós cuidam de mim. Parece que meus pais sumiram depois de me deixar com eles...

- Ah, sinto muito.

- Tudo bem, meus avós são legais. E acho que meus pais deviam ter seus motivos. E a sua família?

- Ah, eu moro com a mãe. Vejo meus avós de vez enquando. Meu pai mora em outra cidade e eu raramente vejo ele. Meus pais não conseguiram se entender para casar, entende?

- Sim. Bem, a vida não pode ser perfeita.

- Verdade.

De repente, Victoria sente um arrepio na espinha, que percorreu todo seu corpo, desde os pés até sua cabeça.

"Mas o que?" pensou, mas logo sentiu algo em seu peito.

Era a sua "cruz" novamente.

"Droga! Não agora!" Victoria estava aflita. O que seria dela se descobrissem? E o que Lucas iria fazer? Olhou no relógio. Eram 17:59h. Mas era dia 12...

"Espera um pouco! Eu estava fazendo 12 anos quando isso começou... Será que tem ligação?"

A dor começou fraca. Por enquanto ela conseguia aguentar sem gemer de dor. Mas não iria durar muito tempo. Ainda faltava uma hora para chegarem.

"Droga! Por favor... Só dessa vez..."

A dor continuava fraca, porém parecia que estavam queimando seu peito. Quando o relógio indicou 18:00h a dor explodiu e mudou para suas costas.

"AH! D... Droga... Eu tenho que... Aguentar... AH!"

Victoria não pode evitar se curvar, o que chamou a atenção de Lucas.

- Victoria? Tudo bem? - Lucas estava sério e sua voz mostrava que estava preocupado.

"AH! Eu preciso... AH! Falar algo... Mas sem... AH!"

- Victoria?! - Lucas estava ficando assustado. Logo ele chamaria ajuda.

- E.. Eu... Estou... Bem... Ah... - disse com dificuldade, entre suspiros de dor.

- Não parece. O que você tem?

- É... Só um... Mal-estar passageiro... Ah... Eu vou... Ficar bem...

- Tem certeza?

- S.. Sim.

"Droga... Essa dor não passa... Assim Lucas vai chamar o professor e estará tudo acabado... AH! M.. Mas o quê?!"

Victoria agora sentia algo se mexendo dentro de suas costas. Isso a estava rasgando por dentro. Parecia algo grande que queria sair desesperadamente.

Nunca havia sentido a dor tão intensa, mas não podia se entregar a ela. Ela tinha que aguentar, logo a dor deveria passar, como todas as outras vezes.

Como o esperado, a dor passou tão rápido quanto ela havia aparecido. Eram 18:01h.

- Ah! - Victoria estava com a respiração descompassada.

- Victoria?

- E.. Eu estou bem. Já passou, viu? Como eu disse. - disse tentando normalizar sua respiração.

- Ufa! Ainda bem. Você me assustou.

- Ah, ha ha, desculpa. Mas você poderia me dar a minha bols... - não conseguiu terminar de falar, simplesmente adormeceu.

- Victoria?! O que houve? - disse chegando mais perto de sua companheira de viagem - Ah! Que bom... Ela está só dormindo.

"Mas que estranho... Por um momento jurei que ela estava sentindo dor, assim como... Não, não pode ser. Impossível" pensou Lucas.

Lucas admirou Victoria dormindo por algum tempo, pegou sua jaqueta e a cobriu. Depois deu um delicado beijo em sua testa, seguido de um suave sorriso.

--


Estava vendo o céu. Mas algo estava diferente... As nuvens. Elas estavam perto demais. Então percebeu que não estava no chão. Estava... Voando?

Antes que pudesse pensar, seu corpo se moveu, esquivando de uma espada enorme feita de prata. Depois seus braços revidaram o ataque. Estava segurando duas espadas menores de bronze, eram espadas-gêmeas.

Agora conseguia ver. Estava lutando com um homem de cabelos cacheados, relativamente compridos, e de um castanho tão claro que era possível confundir com loiro no sol. Mas ele não era normal. Tinha um par de asas gigantescas e brancas em suas costas. Um anjo?

Ele desviou das espadas, que apenas rasgaram sua túnica azul-claro. Logo percebeu que estava usando um vestido longo preto com detalhes em vermelho. Viu um vulto enorme nas suas costas. O que era? Outra pessoa?

Não. Eram asas, como as do anjo, porém elas eram vermelhas, exatamente como a pena que outro dia havia achado em seu quarto.

O anjo avançou, ela desviou seu corpo, porém sua asa esquerda não saiu do caminho a tempo. A espada furou a asa e depois a rasgou em direção às pontas das penas.

Começou a cair em parafuso. O chão se aproximava depressa. Com esforço, abriu suas asas para estabilizar, sentiu a dor de sua asa esquerda. Pousou de pé, encarando o anjo ainda no céu.

- Desgraçado... Agora você vai me pagar por ter feito isso! - ouviu uma voz jovem feminina, igual a de seu sonho no domingo, mas dessa vez, a voz saiu de dentro de seu corpo.

Percebeu que aquele não era seu corpo, era diferente. A pela era mais clara, era mais magro e tinha cabelos lisos e pretos até a cintura.

O anjo desceu até ela em grande velocidade, pronto para o golpe final. Sentiu raiva. Desviou a espada do anjo com suas espadas. Enquanto o anjo tombava para o lado e tentava pousar, ela uniu as duas espadas, formando uma única espada de bronze. Fez um movimento rápido e atravessou o abdômen do anjo.

- Adeus. - disse enquanto ficava parada, esperando o sangue dele escorrer por sua espada.

- L.. Lu... Cin.... - o anjo tentou falar algo, cuspindo sangue, com seus olhos fixos nela, cheios de medo e dor. Até tristeza.

Retirou a espada, deixando-o cair para trás. Penas brancas voaram entre eles, algumas tingidas de vermelho do sangue.

Ficou observando o belo anjo deitado, seu sangue lentamente escorrendo pelo chão, levando consigo a vida de seu corpo. Até que, finalmente, ele fechou os olhos sentindo a morte o preencher.

Estava acabado. Ele ficaria contente com o seu sucesso.


- Ah! - acordou assustada, levantando um pouco do banco, assuntando seu colega.

- Ah! Que susto! Acordou é? Dormiu bem? - disse Lucas sorrindo para ela.

- Desculpa. Não queria te assustar... Dormi sim, estou melhor agora. - disse tentando disfarçar a preocupação que seu sonho provocara.

- Que bom! Você acordou em na hora. Já estamos chegando.

Victoria olhou pela janela e reconheceu a rua. Faltavam alguns quarteirões para a escola. Quando foi se mexer, percebeu que estava coberta por uma jaqueta que reconheceu na hora.

- Erm... É sua? - disse mostrando a jaqueta para Lucas, escondendo o rosto corado.

- Ah, sim. - Lucas pegou a jaqueta, porém não a vestiu.

- Obrigada. Desculpa ter te preocupado.

- Tudo bem, ainda bem que você está bem. - Lucas sorriu, fazendo Victoria corar mais e retribuir o sorriso.

O ônibus chegou. Lucas levantou para pegar as bolsas.

- Hã? Mas o que é isso? - disse Lucas olhando dentro do compartimento de bagagem.

Ele pegou algo e mostrou para Victoria. Era uma pena vermelha, idêntica a outra que ela achara no domingo.

- O quê? Como foi parar aí? Pensei que... - Victoria parou de falar quando percebeu que estava prestes a contar sobre seu domingo de manhã.

- Hã?

- Na.. Nada!

- Estava em cima da sua bolsa. Você já viu isso antes? - disse Lucas desconfiado.

- Não. - mentiu. Como ela poderia explicar para ele? Impossível.

- Hum... Se não se importa, eu vou ficar com ela.

- Tudo bem. - disse. "Para que ele quer uma pena?" pensou.

Lucas guardou a pena em sua bolsa com um olhar sério, quase preocupado.

- Então, vamos? - disse Lucas, o ônibus já estava estacionado em frente da porta da escola e o professor chamando os alunos.

- Tá.

Ambos saíram, com um pouco de dificuldade por causa do tumulto feito pelos alunos no corredor do ônibus.

- Nossa, como as pessoas são afobadas! Custa esperar um pouco e sair com calma? - disse Victoria assim que chegou no portão de entrada da escola.

- Verdade... Isso tudo é tão inútil... O que você vai fazer agora?

-Hum... Não sei... Como não tem mais aula hoje, acho que vou ficar um pouco, conversar e depois ir para casa.

- Vai conversar com suas amigas ou comig... - Lucas foi interrompido de repente.

- Oooiii!!!!! - gritou alguém que pulou nas costas de Victoria.

- Ai! Mas o quê? Gabi! - disse Victoria tentando tirar a amiga de cima de si.

- He he he... Ah! Ai, desculpa, não percebi que tava atrapalhando... - cochichou Gabriela para Victoria com um sorriso constrangido.

- Pois é, né? Agora já foi. - cochichou de volta.

- Erm... Vou deixar vocês conversarem. Afinal nos falamos o dia todo e vocês nem se viram hoje. Tchau, até semana que vem. - disse Lucas andando em direção a sua casa.

- Ah,não, esper... Droga! Isso é tudo culpa sua Gabi! - disse Victoria dando um tapa no braço de Gabriela.

- Ai! Desculpa, eu não percebi...

- Você nunca percebe as coisas... Droga. Tava tão legal... Estávamos ficando tão próximos...

- Ah! Então, vocês já se beijaram?

- Não! Eu não quis dizer assim... Quis dizer como amigos... - disse Victoria corando, sentia vergonha pelo que Gabriela dissera e de não ter conseguido avançar mais no relacionamento.

- Ah Viii... Que coisa! Achei que você fosse tomar uma atitude... Você teve mais de seis horas com ele, so-zi-nhos!

- Eu sei! Mas eu não vou me atirar para cima dele! E mais, eu tive de novo a... Dor.

O sorriso de Gabriela sumiu, surpresa exigiu que Victoria contasse tudo o que aconteceu e com detalhes.

Após uma hora de narrativa, Victoria para e busca respirar com calma, pois contara tudo o mais rápido que pôde, teria que ir logo para casa ou sua mãe iria brigar.

- Ainda bem que a dor passou logo e não aconteceu nada mais, se não você estaria com sérios problemas...

- É, mas não foi fácil. A dor estava muito forte. - disse Victoria, não lhe contou sobre o sonho nem a pena, queria evitar explicações que não saberia dar.

- Mas ele te cobriu com a jaqueta dele! Isso é um bom sinal. - disse Gabriela dando uma leve cotovelada na amiga.

- Ah... A.. Acho que sim. Mas então, já falamos por muito tempo. Tenho que ir para casa. Até semana que vem. - disse Victoria acenando, se colocando em seu caminho.

- Até!


--


Lucas estava andando sem um rumo definido pelas ruas do bairro. Enquanto andava,segurava uma pena em frente de seus olhos, refletindo sobre Victoria e seu "mal-estar" no ônibus.

"Essa pena... Aquilo me pareceu a mesma dor que senti no aniversário dela... Será que Victoria é... Não. Ela não poderia ser ela... Não. Se fosse eu teria grandes problemas... Muitos problemas. Faltam alguns meses para o dia. Tenho que me preparar e descobrir o que vou dizer a todos." pensava Lucas.

Ele guardou a pena em seu bolso da calça e começa a ir para casa.

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