Capítulo 5 - Passado
Estava claro. A luz era tão forte que poderia cegar se olhasse diretamente por muito tempo.
Desviou o olhar e olhou ao seu redor. Nuvens estavam abaixo de seus pés, acima um céu extremamente azul e a luz. O sol.
Andou sem rumo certo, não havia nada além de mais e mais nuvens. Carregava uma espada enorme de prata.
Reconheceu-a de uma vaga lembrança. Era a espada do anjo que havia derrotado.
Parou ao ver um outro anjo caído nas nuvens. Não era bonito e tinha asas menores e menos brancas. Ele estava gravemente ferido na parte inferior do abdômen, agonizando de dor.
- Para onde ele foi? - a mesma voz feminina de antes novamente saiu de "seu" corpo.
O anjo fitou-lhe por alguns segundos antes de apontar a direção.
- Obrigada. Agora, vou aliviar sua dor. - disse e deu o golpe de misericórdia no coração do anjo, depois ateou fogo no corpo.
Abriu as asas vermelhas e voou a toda velocidade. "Seu" sangue borbulhava em ódio e sede de vingança.
Conforme avançava, corpos e corpos de anjos apareciam caídos. Desde idosos até crianças. Sua raiva só aumentava.
Chegou onde se concentravam vários anjos com espadas e lanças, todos em volta de algo, formando um círculo. Quando se aproximou viu um belo anjo de asas vermelhas, quase pretas, segurando a maior espada de bronze que já tinha visto. Ele estava em posição de luta, desafiando outro anjo, do qual ele estava encarando.
O anjo de asas vermelhas tinha a pele tão branca quanto a sua, seus cabelos pretos e lisos estavam na altura do rosto. Vestia roupas desgastadas, uma calça escura e uma camisa azul-marinho de mangas curtas, ambas pareciam ser um número maior do que deveriam. Seus olhos eram de um vermelho alaranjado brilhante e não desviavam nem um segundo do anjo na sua frente.
O anjo desafiado era o anjo melhor vestido de todos que já havia visto. Ele usava uma armadura de batalha com detalhes em ouro, tinha uma espada embainhada de prata e ouro, suas asas eram enormes e extremamente brancas, seus cabelos eram cacheados curtos e loiros, e os olhos de um cinza-claro.
O anjo estava de pé e frente a um trono branco rodeado de nuvens. Sua posição e expressão demonstravam arrogância e repulsa com o desafiante.
A multidão de anjos se preparava para atacar o anjo de asas vermelhas quando o anjo desafiado ergueu a mão em sinal de "parem". Todos abaixaram as armas e apenas observaram.
O anjo vermelho sorriu e avançou. O anjo de asas brancas se defendeu facilmente, desembainhando rapidamente sua espada.
O anjo vermelho recuou frustrado e voltou a atacar. O anjo branco se preparou para desarmá-lo e dar um único golpe, que seria fatal. Estava claro que o anjo vermelho iria perder.
Quando as espada iam se tocar, ouve-se o barulho de outra espada chocando com a espada de bronze. "Seu" corpo em frações de segundo estava entre os anjos, encarando o anjo de asas vermelhas.
Por um momento o anjo vermelho hesitou, ele estava surpreso. Novamente sentiu o ódio fervendo "seu" sangue.
- Mas como você...?! - disse o anjo de asas vermelhas recuperando-se do susto. Era a mesma voz que havia deixado ela para morrer na "caverna".
- Nunca subestime o ódio. Não foi isso que você me ensinou? Ou ja se esqueceu? Seu maldito. - disse a voz feminina carregada de ódio.
- Ora sua..! Vai se arrepender de ter sobrevivido! - o anjo vermelho rapidamente atacou.
- Não antes de fazer você pagar por ter me enganado! - "seu" corpo se moveu e desviou a espada de bronze com um único movimento com a espada de prata.
O anjo vermelho se afastou, evitando que a espada o atingisse e voltou a atacar. As espadas se encontraram, porém dessa vez não se separaram.
- Roubou a espada do namoradinho morto para me matar, é? - disse o anjo vermelho com os lábios roçando na "sua" orelha.
Ouviu um som abafado, parecido com um rosnado, vindo de dentro de si. Rapidamente afastou o anjo vermelho empurrando sua espada e atacando.
Com um pouco de dificuldade ele se defendeu e revidou. Ficaram nesse impasse por alguns minutos, sendo observados atentamente pelo anjo de asas brancas e os outros anjos menores. Sem perceberem, chamaram a atenção de outro ser, oculto pela luz.
Atacaram, defenderam e revidaram várias vezes seguidas, até que o anjo vermelho deixou uma brecha na defesa, que logo foi percebida. Porém era um ataque arriscado, era impossível golpear e desviar da espada de bronze.
Sabendo do perigo, avançou para o golpe final. Ignorou a dor em seu peito, sua sede de vingança era maior que tudo. A dona da voz feminina achou irônico que logo isso, que havia ganho dele, que a motivava naquele momento. Riu.
A espada de bronze a atravessou no peito e a espada de prata atravessou a lateral do abdômen do anjo vermelho, atingindo parte da asa direita dele.
- Argh! Vo.. Você... O que você fez?! Está louca?! - disse o anjo vermelho com sangue escorrendo da boca.
- Louca de ódio. Ha ha ha! - riu maniacamente - Volte para onde você não deveria ter saído e fique lá para SEMPRE! - puxou a espada e o anjo estremeceu de dor e raiva.
Ao ferir a asa de um anjo, ele imediatamente cai do céu. E foi o que aconteceu. Ele despencou das nuvens em alta velocidade, gritando e amaldiçoando-a de maldições antigas. Ergueu uma mão e fez um último esforço para abrir o chão abaixo do anjo de asas vermelhas, para que ele voltasse a ficar confinado em seu castigo eterno. Logo após o anjo entrar na fenda, o chão se fechou.
Suspirou. A dor agora a deixava atordoada. Olhou para o anjo de asas brancas. "Seus" olhos demonstravam arrependimento, tristeza, humildade e calma.
-Gabriel... Peço que me perdoe. Jamais deveria ter ouvido ele. Por favor, salve a alma de Victório... Perdão. - sussurrou a última palavra, caindo lentamente de lado.
Antes que tocasse as nuvens, a luz de antes tornou-se mais forte e "seu" corpo se transformou em uma pequena luz redonda.
- Pobre alma... Teu destino tão cruel levou-te a morte trágica. Honrarei teu pedido. Por enquanto, aguarde. Em breve poderás renascer.
O anjo de asas brancas, chamado Gabriel, observou a luz ficando mais fraca, até que tudo ficou na mais completa escuridão.
Abriu os olhos. A luz incomodou seus olhos, fazendo-a fechá-los novamente, até que sua visão melhorasse. A luz do sol entrava pela janela, um pouco distante de sua casa os pássaros cantavam em uma árvore antiga.
Outra vez tivera um sonho estranho e que perecia real. Eles estavam ficando cada vez mais longos e nítidos, e todas as vezes achava uma pena vermelha na sua cama.
Olhou para suas mãos, estava vazias. Estranhou e se levantou. Quando olhou para sua cama vazia, surpreendeu-se: havia seis penas vermelhas espalhadas onde a alguns instantes estavam suas costas. Nunca havia visto tantas penas em uma noite.
Era fim de ano, em poucos meses iria fazer 16 anos. Olhou pela janela e viu as decorações na rua inteira. Era Natal.
Ao se lembrar da data, alegrou-se. Adorava receber presentes. Tomou um banho rápido e foi para a sala, onde estava a árvore de Natal e sua mãe arrumando a bagunça da noite anterior. A ceia de Natal fora na sua casa este ano.
A mãe estava distraída, demorou para perceber sua filha se aproximando.
- Bom dia. - disse Victoria.
- Bom dia. Quer comer antes ou depois dos presentes? - disse a mãe de Victoria com um sorriso terno no rosto.
- Depois. - Victoria sorriu como uma criança, sentou-se ao lado de sua mãe e começou a abrir os presentes.
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Lucas deveria estar feliz, comemorando com seus "avós", mas hoje ele estava pensativo em seu quarto.
Estava recordando de sua infância e de tudo que havia acontecido entre ele e Victoria, principalmente na volta daquele passeio ao museu.
Estava tão distraído que deu em pequeno pulo quando ouviu uma batida na porta. A porta se abriu e seu "avô" entrou.
- Oi... Por que você está aqui fechado? Algum problema? - ele parecia preocupado, pois o rosto de Lucas estava extremamente sério.
- Ah... Não é nada. Só estava pensando um pouco. - disse Lucas tentando não parecer tão sério.
- Hum... De qualquer forma, você não deveria ficar trancado no quarto no seu aniversário. Vamos sair um pouco, que tal?
- Acho que não. Queria organizar meus pensamentos... Mas não se preocupe, logo vou sair do quarto.
O "avô" olhou preocupado uma última vez para Lucas antes de sair.
- Tudo bem então. Feliz aniversário. - disse e logo fechou a porta, deixando Lucas sozinho com seus pensamentos.
Lucas suspirou e olhou pela janela, que dava na frente de um parque. Admirou a luz do sol da manhã de sábado por entre as árvores. Ao longe se via uma copa enorme de uma árvore antiga. A maior e mais velha da cidade. Era a mesma árvore perto da casa de Victoria.
- O que eu faço? O dia está chegando e ainda não tenho certeza de nada... Droga. - murmurou Lucas consigo, encostando a testa no vidro frio da janela. Sua expressão era de pura tristeza.
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O sol nascia no horizonte da cidade. Parecia ser apenas mais um dia comum. Apenas parecia.
Era Natal e algo iria mudar a vida de um casal, e até mesmo o destino de todos, para sempre.
Alguém bateu na porta de uma casa simples, acordando o casal de idade avançada que morava lá. O homem desceu as escadas apressado e sonolento e abriu a porta. Não havia ninguém lá.
Quando ia fechar a porta, um ruído agudo e abafado chamou sua atenção para o chão da entrada. Um bebê, enrolado em um tecido azul-claro que parecia de seda, mas era mais resistente e igualmente fino e delicado.
Chamou sua esposa, que logo estava atrás dele, que se virou segurando o bebê em seus braços. A mulher deixou escapar um pequeno grito de surpresa enquanto seu marido a olhava com dúvida e apreensão.
A mulher deixou a surpresa de lado e pegou o bebê, ninando-o e cantarolando uma música de ninar. O bebê tinha olhos castanhos quase pretos, pele branca e cabelo castanho-escuro. Ela olhou para seu marido e entraram em um acordo silencioso.
- Lucas... - disse a mulher com suavidade, olhando para o pequeno garoto dormindo em seus braços.
Abriu os olhos rapidamente, estava suando muito. "O que foi isso? E... Quando foi que eu adormeci?!" pensou Lucas deitado em sua cama.
Olhou para o relógio na escrivaninha, eram 16:00h e ainda era Natal. Colocou a mão na testa, ele estava ofegante. Esses "sonhos-visões" estavam lhe afetando cada vez mais. Toda vez que eles ocorriam seu corpo se desgastava.
Levantou e sentiu um incomodo em suas costas, mais especificamente na região oposta ao seu coração, onde ficava sua marca de nascença: uma mancha irregular que poderia parecer uma cruz, dependendo do ângulo de visão.
A queimação fez Lucas se curvar, fechando os olhos com força e trincando os dentes para não gritar. Algo estava se remexendo dentro de suas costas. Algo grande, que o estava enlouquecendo de dor.
Sua visão se definiu. Via sua sombra na parede do quarto. Aquilo que estava rasgando sua carne estava agora formando duas deformidades salientes em suas costas.
RASG!
Sua pele e camisa foram rasgados e duas enormes asas brancas saíram de suas costas, ocupando seu quarto inteiro. Gritou.
Abriu os olhos. Estava curvado em seu quarto, porém não havia sinal de que aquelas asas realmente tinham aparecido. Sua camisa estava inteira, até mesmo suas costas não tinham algum ferimento ou cicatriz. A dor já havia passado.
Endireitou-se, foi ao banheiro, do outro lado do corredor do segundo andar, e se olhou no espelho. Seu rosto estava horrível, parecia que ele tinha passado quatro noites acordado, lutado com um cão, enquanto corria mil quilômetros sem parar. Ou seja, estava muito mal.
Lavou o rosto com água gelada, esperou a água escorrer pelo queixo em direção a pia e voltou a se olhar no espelho.
- AH! - gritou surpreso. Por alguns instantes ficou sem reação.
No espelho aparecia uma imagem que não era seu reflexo. Era o reflexo de outra pessoa. Ou melhor, de um anjo. Ele tinha pele muito branca, olhos azuis, cabelos cacheados não muito longos e de um castanho-claro, quase loiro. Atrás dele estavam duas asas brancas fechadas, idênticas as que tinham "saído" de suas costas.
Voltou a jogar água em seu rosto e levantou o olhar para o espelho. O reflexo agora estava normal. Ainda estava visivelmente abalado pela nova visão, seu rosto demonstrava seu assombro e desgaste físico-emocional. Nunca tivera tantos "sonhos-visões" no mesmo dia, praticamente um após o outro. Isso tudo o deixou realmente exausto.
Se dirigiu para seu quarto para tentar descansar, se possível, sem ter mais um "sonho". Estava quase na porta quando encontrou seu "avô" subindo as escadas. Ele estava indo ver como seu "neto" estava, visto que Lucas não saiu do quarto como havia prometido.
- Ora ora... Estava justamente indo te ver. Que tal nós darmos um passeio no... Mas o que aconteceu?! Você está horrível! Nem parece que passou o dia todo no quarto... Está tudo bem, mesmo?
- Está tudo bem, só tive um pesadelo e um pequeno mal-estar. Vou descansar e logo estarei melhor. - Lucas forçou um sorriso confiante, para tranquilizar seu "avô".
O mesmo rosto do homem que Lucas havia visto pegando o bebê, porém com mais rugas e outras marcas da idade, o encarou sério, sem muita confiança no que ele havia dito. Suspirou e seu olhar se tornou terno e preocupado.
- Bem... Você já está bem grandinho, deve saber se cuidar. Fique bem logo, certo? Não seria bom sua avó se preocupar no estado em que ela está...
- Sim... - disse Lucas, diminuindo o sorriso, lembrando que sua "avó" estava doente e precisava de muito repouso.
- Melhoras. - disse o "avô" de Lucas descendo novamente as escadas.
Lucas ficou um pouco olhando para o vazio antes de entrar no quarto. Jogou seu corpo na cama, olhando o teto, tentando novamente organizar seus pensamentos.
"O que aquilo tudo quer dizer? Droga, meu tempo está acabando... Esse ano que está por vir vai ser decisivo. Dependendo dele, o que vai acontecer no dia poderá mudar... Espero que mude." pensou Lucas.
Percebeu o quanto estava cansado e adormeceu, rezando para que os "sonhos" parassem. Infelizmente suas preces não foram atendidas.
Quando finalmente sua consciência voltou a funcionar, "seu" corpo já estava em movimento. Estava lutando com espadas contra uma bela mulher. Na verdade, essa mulher tinha duas asas vermelhas e eles estavam voando. Novamente sua mente estava no corpodaquele anjo.
A mulher era jovem, de pele extremamente branca, cabelos lisos e pretos soltos até sua cintura, olhos vermelhos brilhantes e estava usando um vestido longo preto, parecia um vestido do século XVII, só que sem a armação na saia, fazendo-a ficar solta e rente às pernas. O vestido tinha detalhes em vermelho no tronco, linhas que desenhavam sua cintura, dando a impressão de que a mulher era mais magra do que era realmente. Ela estava há algum tempo sem seus sapatos de salto alto e pretos. Em suas mãos estavam duas espadas-gêmeas de bronze.
A mulher era ótima com as espadas, estava dando trabalho para ele. "Nesse ritmo ela vai vencer... Não. Eu não posso deixar que isso aconteça, jamais! Mas eu não queria ter que fazer isso... Por favor, me perdoe, mas não posso deixar que você liberte ele" pensou uma voz masculina suave dentro de sua mente.
Imediatamente avançou com sua espada no lado esquerdo da mulher. Como esperava, ela desviou o corpo facilmente, porém a asa esquerda foi mais lenta. Todo anjo sabe que é impossível desviar suas asas de uma espada veloz em pleno voo, tanto que esse era um golpe considerado proibido, usado apenas em casos extremos, para a punição máxima: exílio do reino dos céus. Uma vez que suas asas sejam feridas, o anjo jamais poderá voar novamente.
Era um golpe arriscado. Não sabia o que iria acontecer, nem se Gabriel iria puní-lo por tal ato, mas naquela situação era necessário arriscar. Cortou a asa vermelha. A mulher gritou de dor e despencou do céu em espiral, em alta velocidade rumo ao chão. Observou esperando o impacto e o sangue, afinal, estavam lutando a oito quilômetros de altura. Porém ela o surpreendeu ao abrir suas asas para estabilizar a queda e pousar em segurança.
"Como ela...?! Maldição! Isso não devia ter acontecido..." pensou a mesma voz masculina, que agora estava desesperada.
Desceu em direção a mulher, tinha que matá-la, mesmo não querendo. O destino de todos, do mundo, dependia disso. Ela não podia vencer.
Sentiu o olhar dela fixo em si, fitou-a e se assustou. Os olhos, antes vermelhos brilhantes, agora pareciam feitos de fogo de tão incandescentes. Mas o que o assustou mesmo fora o ódio que pode sentir apenas olhando dentro dos olhos dela.
Por um momento ficou paralisado, mas logo lembrou de sua missão e se direcionou para pouso. Enquanto descia, viu os lábios dela desenhando as palavras: "Maldito... Você... Pagar..." E essas palavras pesaram em seu coração como chumbo.
A culpa o distraiu da luta, quase sendo acertado pelas espadas de bronze, que desviou com sua espada de prata. Antes estavam empatados em questão do manejo de espada, ms agora a mulher estava mais rápida e perigosa, ele estava perdendo lentamente.
Ele se descuidou por um segundo e sua espada ficou em uma posição que deixou uma falha na defesa, que foi rapidamente notada pela mulher. Ela uniu as espadas-gêmeas, formando uma única espada de bronze, e atacou sem hesitar.
O tempo pareceu desacelerar enquanto a espada de bronze atravessava "seu" corpo. O tempo voltou ao normal e junto com ele veio uma dor imensa na altura do estômago, onde a espada estava fincada.
Sentiu o sangue quente escorrendo pelo ferimento e pelo queixo. Tossiu mais sangue, "seus" ouvidos estavam zumbindo tão alto que sua mente estava se desfazendo.
"Acabou. É o fim. Eu... Falhei...." pensou a voz masculina enfraquecida. Reuiniu forças para dizer suas últimas palavras de despedida, porém não conseguiu falar nem uma palavra inteira.
- L.. Lu... Cin... - murmurou, deixando "seu" corpo cair no chão quando a mulher puxou a espada, que agora estava tingida de vermelho.
Ficou deitado no chão, sentindo "seu" sangue deixando-o e "seu" corpo ficando frio. Olhou uma última vez para a mulher condenada pelo destino. Viu os lábios dela desenharem outra palavra, mas dessa vez não conseguiu entender. Pensou ter visto um sinal de lágrimas nos olhos dela e, se não estivesse enganado, ele o olhava com tristeza, como se não quisesse ter feito o que fez com ele.
Não teve tempo para pensar melhor se estava certo, logo tudo escureceu e se sentiu totalmente... Vazio.
Acordou tão assustado que sentou-se ereto na cama. Estava ofegante e suando como nunca. Apoiou a cabeça em suas mãos e sentiu lágrimas rolarem pelo rosto.
"O quê? Mas por que estou chorando? E o que foi aquele sonho? Aquela sensação... Será que é assim a... Morte? - chorou mais intensamente - Isso não é bom... Nada bom... Não posso deixar que isso aconteça novamente, mas..." pensou Lucas.
Parou de chorar e olhou para as mãos molhadas. Nelas estava uma longa pena branca, com as pontas sujas de vermelho. Sangue. Fechou as mãos com força e rezou para que estivesse errado. Escondeu a pena no armário, na última prateleira, ao lado de uma pena vermelha e de outras 19 penas brancas.
Suspirou, com o coração pesado, e voltou a dormir. Dessa vez os sonhos comuns vieram ao seu encontro.
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