Encurralada, como um roedor qualquer ou um felino acuado. Não podia mais fugir, estava cercada por quem eram conhecidos como amigos por ela até algumas horas atrás.
Irônico. Justamente ela se encontrava naquela situação, a última pessoa em que suspeitaríam fazer tal ato. Conseguiria fugir tranquilamente se sua grande amiga não a tivesse visto sair do quarto totalmente suja de um líquido escuro e inconfundível: sangue.
Como todo animal selvagem, tinha ódio a ficar trancada. Qualquer coisa era melhor do que ser jogada em uma prisão ou manicômio. Estava disposta a se arriscar.
Uma janela pequena e velha. Está longe, mas talvez seja fraca o bastante para quebrar com um pulo através dela. Sorriu nervosa, cerrando os punhos, prontos para uma possível luta, contraíu seus músculos ao máximo e disparou entre seus amigos.
Um, dois, três, seis, dez. Faltavam apenas quatro para ficar livre. Pulou em desespero em direção da janela. Sorriu feliz.
Sentiu uma dor terrível. Alguém havia segurado seu tornoselo, fazendo-a cair de cara no chão frio e duro. Seu nariz doía demais, talvez estivesse quebrado. Agora havia seu próprio sangue em sua camisa, misturando-se com o sangue de seu amado.
Se debateu, como um peixe na rede de um pescador. Jamais iria se entregar para eles. Jamais seria aprisionada. Seria capaz de tudo para se ver livre. Logo a única mão em seu tornoselo esquerdo aumentou de número. Pés, coxas, cabeça, ombros foram aos poucos presos por diversas mãos.
Um relampejo passou em sua mente em alta velocidade. Tivera uma ideia.
Alguém gritou perto dela, uma garota. Um grito de puro horror. Ela já não se debatia, algo quente se espalhava pelo chão, sob todos reunidos ali. Era sangue. Muito sangue que não parava de escorrer. O mais velho, que segurava os ombros, a virou.
Seu sorriso era doentio. Seus olhos azuis cheios de ódio agora tinham um brilho fraco e malígno. Um estilete estava fincado em seu estômago. Vários cortes pelo corpo também sangravam.
"Amigos... Lembrem-se de mim. Lembrem-se deste dia tão lindo. Do dia em que opássaro voou para sua liberdade após matar o gato..." disse, entre tosses de sangue, a garota caída no meio dos curiosos.
Parou de respirar. Finalmente encontrou a paz. Estava livre. Seu sorriso permaneceu em seu corpo sem vida, porém mais suave e inocente. Sua amiga, que ao gritar causou esse desfecho, fechou seus olhos já sem brilho.
"Por que, Katerine?" se perguntava ao olhar o corpo dela e de Diego, ambos caídos no meio do vermelho do sangue de cada um, um com uma expressão distorcida de dor e outro com a expressão serena. DIego que Katerine tanto amava.
Ninguém mais iria saber o verdadeiro motivo desse pesadelo. Katerine levou consigo seus últimos intantes junto com Diego. Jamais iriam saber o que ele havia dito ou feito que desencadeou a furia dela. Katerine perdeu o controle e mostrou seus sentimentos antes escondidos à todos. Toda sua raiva com seus amigos, tão falsos e cruéis quanto Diego.
Agora nada importava, logo todos iriam se esquecer que já existiu uma garota quieta, aparentemente calma e feliz, que morreu de ódio. Guardara todo seu ódio por anos em seu coração, se condenando aos poucos.
Todos esqueceram.
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